RAÍ NETO

19/04/2013 23:48

RAI NETO

 

Infelizmente, vive-se numa sociedade que, se não for injusta pelo menos, é cruel. Os valores humanos como a solidariedade, a compaixão, o companheirismo, a lealdade são esquecidos muito facilmente.

          Como na Grécia pré socrática, valoriza-se muito o belo, o esteticamente perfeito, mesmo que seja de duvidoso conteúdo. Não se busca a essência das pessoas e o que elas têm de bom para oferecer. Prefere-se expor o lado negativo de tudo.

          Neste diapasão, acaba-se por não se valorizar o que, de fato, merece valor. Infelizmente, essa é uma tônica em grande parte do povo brasileiro, um povo que ainda não encontrou sua identidade e, por conta disso, ainda acha que o que vem de fora é melhor, mesmo que seja o pior que de lá for trazido. Ainda se padece da síndrome do que é importado é melhor. O produto brasileiro não merece confiança. É assim na música, no modo de vestir-se e até no modo de falar. Há sempre uma capitulação aos ataques de outras culturas, que nada têm a ver com  a nossa. O resultado é o desinteresse e o desprezo, senão a vergonha, pelas tradições que sempre fizeram parte do nosso modo de vida.

          Na música, na literatura e nas diversas manifestações, desprezamos nossos artistas e preferimos dar valor aos que vêm de fora, impostos pelos falsos meios de comunicação, que representam o pensamento da elite dominante, coronelista e escravizante.

          Aqui, em Brejo Santo, não é diferente.  Tá certo que a cidade é progressista, mas isso não advoga o direito de exterminar todos os nossos traços culturais. A cidade não dar valor aos artistas da terra e RAI NETO foi um exemplo disso. Toda uma obra voltada para a fixação da cultura regional não foi reconhecida e todo seu esforço não encontrou eco nos poderes públicos, que poderiam tê-lo patrocinado. Sempre se preferiu contratar bandas de músicas caras só porque eram e são de fora, sem contar que apresentam uma música incompreensível, barulhenta e de péssimo gosto. Tudo não passa do famoso PÃO E CIRCO, alienando mais ainda nossos jovens, que não têm opção de ver coisa melhor. Aceitam o que lhes enfiam goela abaixo.

          RAI NETO, assim como Frank Dalto, Banda Beleza Rara, Cleôncio Oliveira, Acadêmicos do Choro, Marineusa Santana, José Pereira, Zé Santana, Horácio Neto e Geivan Pereira nunca receberam qualquer incentivo por parte da Prefeitura, que até extinguiu a Secretaria de Cultura. Uma pena....

          Mas RAI NETO foi um guerreiro na sua disposição de manter-se fiel à sua terra e às suas tradições. Faleceu incompreendido, como sempre são os sábios, deixando uma ferida exposta do descaso que a cidade tem por seus artistas.

 

Brejo Santo, 03/07/2011

 

Paulo Gondim